Li esta reportagem escrita por Julia Priolli, na Revista Vida Simplesque alguns traz pontos que identificam erros cometidos por pais na hora de educar as crianças para a alimentação saudável.
É uma ótima leitura para aprendermos e introduzirmos no cotidiano, não somente sendo pais, mas também sendo padrinhos, amigos, familiares. Mas é claro, sem invadirmos a vida alheia de forma irritante ou ofensiva! Ok?
Deixei umas frases em negrito que as considero o ponto chave de cada caso! Boa leitura a todos!
Muitos pais cometem falhas na alimentação das crianças sem perceber. Você sabe o que há de errado nesta prosaica cena familiar?
“Dá uma mamadeira queridinha, mamãezinhaâ€, dizia o Francisco, aos 3 anos de idade, depois que nasceu Sebastião. Eu ficava comovida. A mamadeira de leite com achocolatado apaziguava alguma coisa dentro dele que ultrapassava minha capacidade de compreensão. “É meu peitoâ€, argumentava ele, me deixando sem palavras, enquanto eu amamentava seu irmão. Me deixava também sem poder de veto, que sempre exerci sem remorsos. Culpa é para mãe desocupada. Lá em casa não dá tempo. Então, antes que ele abrisse o berreiro e convidasse o irmão a se juntar à quela ópera, eu dava logo uma mamadeira. Ou duas. Ou três.
Então fui convocada a fazer esta reportagem e investigar os erros que os pais cometem e que atrapalham o paladar e a alimentação dos seus filhos. A primeira coisa que fiz foi assistir a uma palestra de Jamie Oliver, o chef inglês da hora – aquele que conseguiu a proeza de reformular a merenda da rede de ensino britânica. E descobri que, com as várias “mamadeirinhas queridinhas†que o Francisco tomava por dia, ele ingeria um “carrinho de mão†de açúcar por ano. Mesmo sendo zelosa com a alimentação dos pequenos, ao escrever esta reportagem percebi, constrangida, que minha própria casa era uma comédia dos erros – será que a sua também é?Forçar as boas maneiras
Meus filhos comem bem. Mesmo reclamando, o Francisco nunca deixa sobrar nada no prato e opera o garfo com destreza de dar gosto. Aprendi com minha mãe que desperdÃcio, bem como falar de boca cheia, é uma grosseria. O Sebastião, de 7 meses, que está adentrando no universo dos comestÃveis, se revelou uma pequena capivara, sempre colocando a mão em tudo. Lá em casa já virou bordão: “Sem as mãosâ€, e assim vou ministrando as colheradas sem deixar que o pequeno encoste na comida. Tudo isso para descobrir, com cara de eureca, que se sujar faz parte do processo. “A alimentação é uma experiência sensorial completa e levar comida à boca é decorrência da manipulaçãoâ€, diz o pediatra e consultor do Ministério da Saúde Carlos Eduardo Correa. Ele afirma que, se a experiência sensorial for prazerosa bem no comecinho da vida, a criança sempre vai querer experimentar coisas novas. Nem adianta querer passar noções de etiqueta antes de a criança completar 1 ano. Entre os 2 e os 3 anos de idade, a criança começa a entender o porquê das regras, tem habilidade para usar a colher. “As boas maneiras devem ser introduzidas como parte do processo de aprendizagem, com naturalidadeâ€, diz a psicóloga e doula Daniela Andretto.
Proibir de entrar na cozinha
Na cozinha, meus pequenos só entravam na hora de comer. Sempre os deixei longe do fogo e das facas. Longe, por tabela, do preparo das comidas. Um erro, como vim a saber. Pesquisadores em pedagogia da Universidade de Colúmbia, Nova York, descobriram que preparar comidas saudáveis junto com as crianças afeta seus hábitos alimentares de maneira positiva. Aproximadamente 600 crianças de 6 a 12 anos que participaram de aulas de culinária e nutrição começaram a comer mais grãos e vegetais. O fato de prepararem seus próprios alimentos as tornou mais propensas a comer bem. “Não deixar a criança entrar na cozinha é um erro natural. Os pais têm medo que elas se machuquemâ€, diz a nutricionista infantil Ana Carolina Elias de Almeida. “Mas é importante envolvê-las no preparo da comida, inclusive na compra, para que elas possam conhecer a variedade de alimentos que existe.†Tudo isso é possÃvel com os devidos cuidados. Os pais devem ficar sempre de olho e nunca deixá-las sozinhas na cozinha. Mas, para o pediatra Carlos Eduardo, o medo de acidentes domésticos pode ser um risco em si: “Se a criança não aprende o que pode machucar, não reconhece os perigos do ambiente e fica vulnerávelâ€.
Longe das mãos, perto dos olhos
Minha casa também estava cheia de itens proibidos – chocolate, salgadinhos, refrigerantes – bem longe das mãos, mas suficientemente perto dos olhos a ponto de atiçar o desejo dos pequenos. Toda casa deve ter um pouco de guloseimas, mas estudos da Universidade de Penn State, nos EUA, sugerem algo que a gente, no fundo, já sabe: alimentos proibidos são mais desejáveis. Crianças foram sentadas em uma mesa com acesso ilimitado a doces e quitutes. Numa outra mesa, os doces ficaram dentro de um pote de vidro e as crianças foram informadas de que poderiam comer somente depois de 10 minutos. Na mesa em que o consumo era livre, comeu-se três vezes menos do que na mesa em que havia restrições. “A proibição reforça o desejo por coisas que não fazem bem. O doce é gostoso e proibido. Isso gera ansiedade na criançaâ€, diz Ana Carolina. Para solucionar o problema, a nutricionista sugere moderação por parte dos pais, ao comprar itens que não querem que os filhos consumam, e muito diálogo: “É um bom momento para trabalhar a questão dos limites com as crianças, explicar que tem a hora e a quantidade certa para comerâ€.
Não deixe que o “não comer†vire uma chantagem. Quando os pais colocam muito peso na questão, a criança abusa. O ideal é relaxar um pouco com isso, pois, como as bisavós já diziam: “Criança com fome come até maçanetaâ€. Outra questão que contribui para a neurose da alimentação é a velha negociação. O famoso “come brócolis que eu te dou um presenteâ€. Pesquisadores da Penn State ofereceram à s crianças figurinhas e horas em frente a TV em troca de um bom prato de verduras. Constataram que as crianças até comeram os legumes, mas aumentaram, e muito, sua implicância com os alimentos verdes. Lá em casa a negociação era sempre parte do processo, e no fim eu cometia ainda outro erro: enchia os meninos de beijos e mimos quando eles comiam bem. Segundo o pediatra Carlos Eduardo, não faz sentido que os pais passem a mensagem “eu gosto de você porque você come bemâ€. É preciso, antes de tudo respeitar o desejo da criança de não comer.
Fazer refeições separados
Não encanar de maneira exagerada com a alimentação mostrou-se um caminho eficiente. Mas nem por isso os pais devem desistir. A Organização Mundial de Saúde sugere que um mesmo alimento deve ser oferecido repetidas vezes em diferentes dias e situações. “A receptividade da criança não é linear. Às vezes ela está disponÃvel, à s vezes nãoâ€, explica Daniela. Por isso, antes de falar em alto e bom som (como fizemos lá em casa) que a criança não gosta de couve (guarde a frase para si), vá oferecendo em diferentes momentos, como quem não quer nada, de preferência durante a refeição em famÃlia. Esse era, por sinal, outro erro que cometemos no nosso doce lar. Por uma questão de logÃstica, as crianças comem bem mais cedo do que a gente e raramente temos uma ceia familiar. Mas comer junto é um ritual. “É uma atividade social. Pode começar desde o sexto mês, quando o bebê já consegue sentar. A criança olha os pais comendo e imita. Quer fazer parte do grupoâ€, diz Carlos. Nesse momento a criança aprende por imitação, inclusive, as boas maneiras.
Comer pratos diferentes
Mas não adianta sentar junto e comer diferente: arroz com feijão para o filho enquanto a mãe sorve um shake de regime. Uma revista de psicologia norte-americana colheu depoimentos de meninas de 8 anos de idade, filhas de mães adeptas de regimes intensos. Elas revelaram que suas noções próprias de uma boa alimentação estavam relacionadas a saladinhas ralas e milk-shakes. “Pais com distúrbios alimentares tendem a ter filhos com distúrbios alimentares, tanto para a obesidade quanto para a anorexia, e esses fatores não se devem só a predisposição genéticaâ€, diz Ana Carolina. Por isso, embora já tenhamos afirmado que os pais têm direito de primar por suas beliscadas, a famÃlia deve buscar uma alimentação comum e equilibrada que atenda à s necessidades das crianças e dos adultos. Lá em casa, isso foi mais difÃcil do que parecia: maneirar na pizza com refrigerante em frente ao futebol de domingo e encontrar um horário comum para comermos juntos.
Comilança vendo TV
O mais difÃcil mesmo foi mudar um hábito do Francisco: sentar na mesa na cozinha e não na frente da TV para tomar café. Um adendo: eu não tenho empregada. De manhã preparo o café do Francisco, enquanto cozinho os legumes da papinha do bebê e faço o café preto dos adultos. Deixar o Francisco na sala assistindo a Tom & Jerry atribuÃa à TV o papel da babá que nunca tive. Mas no fim da reportagem a mudança já era nÃtida. Começou com o leite achocolatado, que virou apenas leite. Em uma semana, o Francisco se acostumou. Para substituir o desenho animado, inventamos uma atividade lúdica: picar banana, maçã, amassar o papaia, cobrir de aveia e iogurte, ou seja, envolver o Francisco no preparo da salada de fruta. E também o Sebastião, que sentadinho na cadeirão ia amassando a banana com suas mãozinhas de quem um dia vai abraçar o mundo. Para sentarmos, por fim, os quatro juntinhos na mesa da cozinha, num delicioso ritual doméstico.
Eu adorei a reportagem, e você, gostou? Tem algo a dizer, complementar? =)
Bom dia!
Excelente matéria, parabéns!!!
Conheço muitas mães que deveriam ter acesso a esse tipo de texto, vou divulgar!
Abraços.
Renata
Olá Renata,
Informação nunca é demais, não é mesmo?
Obrigada pela visita e comentário!